COLUNA ENSAIO GERAL POR ALEXANDRE TENÓRIO


ALEXANDRE TENÓRIO - ESCRITOR
ERA TEMPO DE CARNAVAL (FINAL)
         Ao entrarmos no clube dos 30 o encontrávamos todo enfeitado com motivos carnavalescos, a ornamentação sempre era motivo de orgulho do presidente em exercício.
         No sábado de Zé Pereira os participantes dos blocos vinham com suas camisas. Nos dias subseqüentes a negrada vinha com suas fantasias ou à vontade, mas no sábado era obrigatório ir com a camisa do bloco.
            Quando iam chegando os foliões, nós jovens já começávamos a paquerar, principalmente as meninas que vinham de fora, e aquela que nos caia na simpatia nós marcávamos, e ficávamos por ali, quando a orquestra começava a tocar e o salão começava a encher, nós íamos à caça da presa, e quando nos aproximávamos dela, colocávamos a mão no ombro e se ela deixasse tínhamos conquistado a presa e era só sair para a galera.
         Quando menos a menina esperava, dávamos um cheirinho no cangote, e por ai, iam às coisas. Então como num passe de mágica surgia outra menina, mais bonita que a que estávamos. Então começávamos a paquerar aquela menina. Pedíamos para ir ao banheiro e na volta agarrávamos a outra menina e por ai, ia todo o carnaval, ninguém paquerava e namorava menos de cinco meninas no carnaval. E sempre terminávamos o carnaval sozinho, pois como se diz por ai, amor de carnaval dura só três dias.
         Era obrigatório tirarmos fotografia durante os quatro dias de carnaval, muitas vezes quando íamos procurar as fotografias e encontrávamos a foto de uma menina que não estávamos mais namorando, nós deixávamos prá lá, o pobre de Zé do Foto era quem perdia, ele perdeu muita fotos assim.
         Tinham algumas figuras interessantes nos carnavais do clube, uma delas era o casal Wilson carteiro e sua esposa Francisca, pois o nosso maior mentiroso “Wilson carteiro”, vestia todos os anos uma kafta de poliéster que tinha desenhado um jornal, e durante os quatro dias de carnaval ele dançava com aquela roupa, e o mais curioso é que ele andava bem devagar, para os senhores terem uma idéia, quando ele terminava de dar uma volta completa no salão, era hora do intervalo, quando ele terminava a outra volta à orquestra dava o ultimo sopro nos instrumentos e acabava o baile, até hoje não sei como Francisca aquentava uma coisa daquela.
         Outro casal folião que esta na minha mente como se fosse hoje, era Basto de Sá e dona Primavera, ele com aquele chapelão de aba 20, cantando e dançando animado, começava na hora que a orquestra iniciava e só parava no final, foi um casal de  grandes importância para o nosso carnaval.
         Praticamente todos nós homens, íamos para o clube com uma toalha de rosto no pescoço, que tanto servia para enxugar o suor, como servia para dançarmos com as meninas, o menino pegava numa ponta da toalha e a menina pegava na outra ponta.
         Um dos maiores foliões de nossa terra eram meus avós, seu José Correntão e sua esposa dona Berenice, eles não perdiam nem um dia sequer, e começavam a dançar desde o inicio do baile até o final, e a curiosidade era que ele só bebia guaraná.
         Outro casal de foliões foram meus pais Juarez Tenório e minha mãe Miriam, no ano em que eles namoraram, ela foi eleita a rainha do carnaval, era o ano de 1959, e o baile foi aonde é hoje a secretaria de educação.
         Algumas curiosidades que tinha no baile e nós jovens descobríamos era que os dois trombones da orquestra, José Delicado e Mané do carão, eles tinha estilos diferentes de tocar, enquanto Delicado soprava forte e ao final do baile o cuspe que saia do seu trombone dava para encher um balde de 5 litros , Manuel do Carão tocava bem baixinho e o cuspe do seu trombone não dava par encher nem uma xícaras de café ah, ah, ah.
         Um dos grandes carnavais que nós tivemos foi quando surgiu a musica COQUEIRO DA BAHIA QUERO VER VOCÊ AGORA, naquele ano foi o HIT do carnaval.
         Outra musica que marcou nossa época foi a musica que a letra era assim:

         “Chegando lá me espere que eu também vou, eu vou para Bom conselho visitar o meu amor, chegando lá na praça da matriz é aonde o povo diz que e a terra de papacaça, orar de graça vou realizar meu sonho falar com Feliciano e tomar muita cachaça lá lá lá, lá lá lá, lá lá lá lá lá lá”.
         Outro grande folião de nossa época era “Feliciano”. Feliciano era figura obrigatória em todas as diretorias do clube dos 30, além de animado, era 100% honesto.
         Outra musica que marcou época era a musica que dizia “TOCA PULUCA, TOCA JOSÉ, O POVO TE AMA, O POVO TE QUER”.
         Eita, amigos leitores, como era bom o carnaval em nossa terra, era maravilhoso. Nós que tivemos o privilégio de termos participados desta maravilhosa festa, fomos uns bom-conselhenses de sorte. Infelizmente a festa chegou ao ponto que chegou, simplesmente porque o poder publico nunca investiu no nosso carnaval, se ele tivesse investido. O nosso carnaval não tinha se acabado, como não se acabou o carnaval de Vitória de Santo Antão, Pesqueira, Triunfo, Salgueiro, Pedra, Bezerros etc.
         Para finalizar esta epopéia que foi contar como era o nosso carnaval. Devo dizer aos senhores leitores. No dia em que um prefeito tiver a decisão política de reerguer o nosso carnaval, ele conseguirá. Foi tentado uma vez nos dois anos de governo de Daniel Brasileiro, e ia dando certo, infelizmente não houve continuidade e tudo voltou à estaca zero.

TOCA PULUCA, TOCA JOSÉ, O POVO TE AMA O POVO TE QUER.

Postar um comentário

1 Comentários

  1. EXCELENTE MATÉRIA QUE NOS LEVA A UM PASSADO AONDE ERAMOS FELIZES E NÃO SABÍAMOS.O ALEXANDRE RETRATOU COM FIDELIDADE O QUE ERA O NOSSO CARNAVAL;BONS TEMPOS!

    ResponderExcluir

"Os comentários publicados nas matérias não representam a opinião do Blog do Poeta, sendo a responsabilidade inteiramente de seus autores."