COLUNA ENSAIO GERAL POR ALEXANDRE TENÓRIO

Alexandre Tenório
O contador de causos de Bom Conselho
ERA TEMPO DE SÃO JOÃO
(PARTE I)
Vou me reportar para minha Rua Joaquim Nabuco, exatamente para o tempo de SÃO JOÃO. Sem exceção de nenhuma casa, todas as casas de Joaquim Nabuco tinham fogueira, que eram acessas logo após o jantar, umas pegavam logo, pois eram madeira que estavam no quintal havia muito tempo, já tinha muito tempo, e já tinha ressecado o bastante para ficar desidratada, e outras demoravam a pegar devido ser comprada aos vendedores de madeiras, a maioria destas madeiras eram de catingueira, planta arbústea que predominava no setor do chucuru, e que tinha em seu José Rogério o seu principal cortador.
Não importava se seca ou molhada, o importante era fazer sua fogueira no SÃO JOÃO, e ficar de bem com a vida.
A minha casa era especial, pois dona Berenice (minha avó) nos presenteava com uma linda mesa, contendo com o que havia de mais gostoso da iguaria da festa, eram pés de moleques (feito por Maria Preta), bolo Souza Leão, pamonha, canjica, milho cozinhado, mal-casado, (bolo feito a base de massa de mandioca, que ficava ligadinho e delicioso), tapioca, bolo de fubá, bolo de milho, bolo de massa puba, bolinhos de milho fritos no óleo etc., realmente a casa de dona Berenice tinha um Q todo especial na rua, e não pense que isto era apenas para nossa família, ela mandava para as vizinhas mais chegadas um pouco destas iguarias, que ficavam esperando ansiosas pela chegada do prato da casa de dona Berenice.
Eu fazia também a minha fogueira, ao lado da fogueira principal, ela era 10% do tamanho da principal, era acessa na mesma hora da grande, só que iria servir mais que a grande, pois como ela era pequena e pegava fogo logo, com pouco tempo estava em cinza, era a sua brasa que iria nos proporcionar o prazer de soltar, chuvinhas, busca-pés, bombas, estalo de bebê, cobrinhas, foguetão, lagrimas, vulcão etc.
Meu avô, seu José Correntão, era quem acendia as fogueiras, ele embebia um pano com gasolina e colocava no meio da fogueira, depois jogava um pouco de gasolina na madeira depois colocava fogo, em poucos minutos a fogueira estava acessa, e nós sabíamos que naquele ano ninguém da família iria morrer, pois se você tentar colocar fogo em uma fogueira e não conseguir fazer com ela pegue, é morte na certa na família, assim era a crendice que nós tínhamos.
Como bebida tinha quentão, cerveja e refrigerante, este quentão tinha sido feito na casa de minha bisavó, Rosa Feliciano, por Joanita Torres, ficava uma delicia, eu pequeno não tinha o prazer de tomar deste delicioso quentão, só quando me tornei adulto foi que eu tive o prazer de tomar do quentão de Joanita Torres.
Aos poucos começavam chegar os nossos familiares, e em pouco tempo a casa estava animada, um monte de meninos e meninas a soltarem traque e chuvinha, minha avó Berenice de lado para outro dando ordens e quando menos esperava vinha ela com um pacote de bombas e busca-pés. São João para ela tinha de ter bombas, então ela pegava um tição e começava a soltar suas bombas, nós ali pequeno admirando ela soltar, e meu avô seu José Correntão, de cara amarrada, pois ele não gostava de jeito nenhum de bombas, e minha avó, nem ai para ele, quando terminavam as bombas ai entrava no busca-pé, este sim era um bichinho safado, quando menos se esperava, ele saia perseguindo um cristão e nós meninos, dando gargalhada.
A rua inteira ficava na calçada, conversando, soltando bombas e assando milho e carne, era uma noite maravilhosa, a única coisa que nos fazia chorar era a fumaça, esta sim era uma danada, não respeitava ninguém, principalmente quando a fogueira era feita de madeira verde, até que se desidratasse a fumaça comia solta.
Semana que vem tem mais.

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