Fazer trilha pelado ganha adeptos, inclusive no Brasil. Saiba onde praticar

Todo mundo conhece os benefícios de se caminhar na natureza. Mas você já pensou na ideia de fazer uma trilha sem roupa nenhuma?

Desde o início da pandemia de coronavírus, o turismo mundial viu viajantes deixarem os ambientes fechados para terem um maior contato com o mundo ao ar livre.

Todo mundo nu

Nem que para isso seja necessário estar completamente nu.


A “caminhada nua”, tradução literal em português para naked hiking ou freehiking, é o termo usado para a prática de fazer trilhas sem roupa, em áreas devidamente autorizadas.

“A ideia é sentir o que a natureza tem para oferecer. É estar em contato com tudo, com a água, a terra, as plantas e o ar. Você sente o ambiente muito mais do que totalmente vestido”, descreve para Nossa Paula Duarte Silveira, presidente da FBrN (Federação Brasileira de Naturismo).

Mas é preciso ter em mente que não basta arrancar a roupa e sair por aí como se vem ao mundo. Sobretudo em países como o Brasil, onde a prática não é permitida e pode ser enquadrada como ato obsceno.

Por isso, Paula recomenda que os interessados na experiência procurem sempre áreas privativas e exclusivas para esse tipo de atividade, disponível inclusive no Brasil, em destinos como o Espírito Santo, Bahia e Amazonas (veja mais informação abaixo, em ‘Onde praticar no Brasil”).

“São sempre locais com trilhas específicas”, alerta essa paulistana que pratica naturismo, há cerca de 30 anos.

A história de quem já fez

Embora no Brasil a prática já tenha angariado mais adeptos, ainda caminha a passos lentos. Já fora do país, o naked hiking é uma tendência.

Há cinco anos na estrada, o casal belga Nick e Lins (@n_wanderings/) deixou seus trabalhos como engenheiro de TI e gestora de RH, respectivamente, para viver a vida sem roupa.

“Caminhar nu é uma das melhores maneiras de se aproximar da natureza, sem limites artificiais como roupas”

Nascidos em uma pequena cidade da Bélgica, esses viajantes de 40 e 36 anos começaram a praticar caminhadas do gênero em diversos acampamentos na França, em grandes propriedades particulares e com trilhas de diferentes extensões.

“Na Europa existem muitos resorts naturistas privados com trilhas para caminhadas nuas. Lá, não só é perfeitamente legal estar nu como também não há chances de encontrar pessoas vestidas”, garantem.

Porém, fora desses estabelecimentos, tudo vai depender das leis locais.

“Na Espanha e no Reino Unido é perfeitamente legal caminhar nu em todos os lugares. Na Holanda também é permitido por lei ficar nu em lugares naturais. Mas em muitos outros países, a nudez em público é ilegal”

Nos Estados Unidos, onde “tecnicamente é legal ficar nu no âmbito federal”, Nick e Lins recomendam uma caminhada na Pacific Crest Trail, uma trilha de longa distância com mais de 4.200 quilômetros de extensão, entre as fronteiras dos EUA com os vizinhos México e Canadá.

“Depois de estacionar o carro, tivemos que caminhar com roupas por um quilômetro porque ainda estávamos em terras californianas. Só quando passamos o marco de entrada em terreno federal, pudemos tirar a roupa”, descreve.

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Direitos Autorais: Reprodução/Arquivo Pessoal

“Pesquisamos muito bem nossas viagens para evitar situações perigosas. Mas, no geral, quando encontramos pessoas vestidas em nossas caminhadas, as respostas sempre foram positivas”, completa o casal, que chegou a ser parabenizado por caminhantes com roupa que cruzaram seus caminhos durante a trilha nos EUA.

Onde praticar no Brasil

Quando estiveram por aqui, Nick e Lins foram apenas para resorts naturistas e praias de nudismo “porque a nudez em locais públicos é totalmente ilegal”.

Eles lembram que existem algumas opções brasileiras para quem quer praticar naturismo no Brasil, como a experiência que eles tiveram com o GRAÚNA (Grupo Amazônico União Naturista), a única associação do gênero em toda a região Norte do país.

Anualmente, esse grupo naturista organiza 11 encontros em um sítio alugado na Região Metropolitana de Manaus, cujo day use inclui atividades esportivas, uso de piscina natural e uma trilha de cerca de 3 quilômetros em meio a árvores gigantes da Amazônia, como a samaúma.

Três vezes por ano (no Carnaval, em julho e em dezembro), é possível também pernoitar no sítio com refeições incluídas e atividades de entretenimento, como pintura corporal, oficina de fotografia e paintball.

“Apesar dos nossos ancestrais indígenas terem vivido ao natural, ainda há um preconceito muito grande com relação ao corpo. Um dos dos grandes desafios do naturismo é desassociá-lo do ato sexual”, diz Iran Lamego, naturista há 17 anos e presidente do GRAÚNA.

Iran também conta para Nossa que o Amazonas ainda não tem praias exclusivas para a prática do nudismo, seja por estarem em áreas privadas e urbanas seja pelo difícil acesso, no caso das faixas de areia mais distantes.

“Sociedades machistas e sexistas tendem a associar a nudez com ato sexual. É preciso repensar o corpo variadamente, como um corpo também esportivo, social e cultural”, propõe.

No Brasil, o casal de belgas recomenda ainda o Colina do Sol, clube naturista em Taquara, no Rio Grande do Sul.

Considerada a primeira da América Latina, essa vila naturista possibilita a vivência do naturismo, como a nudez social, em uma estrutura equipada com cabanas rústicas, quadra esportiva, piscina, playground e pequenas trilhas.

Já no Nordeste, a opção é a Ecovila da Mata (@ecoviladamatabahia), uma área de 72 mil m², em meio à Mata Atlântica, exclusiva para lazer e hospedagem dos praticantes do naturismo.

O buraco é mais embaixo

Equivocadamente associado ao exibicionismo, o naturismo promove um estilo de vida mais natural e saudável. Em outras palavras, a prática é muito mais do que estar nu em público.

“É uma forma de viver com muito respeito pelo meio ambiente, especialmente nos dias de hoje. As mudanças climáticas estão acontecendo e precisamos conservar a natureza o máximo possível. Apreciá-la em sua forma mais natural é uma grande parte disso”, diz Nick e Lins.


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