COLUNA ENSAIO GERAL POR ALEXANDRE TENÓRIO


CACHORRO-QUENTE DE ARROZ
Vamos falar hoje de um personagem interessante, uma pessoa muito na dele, vivia sua vidinha sem incomodar os outros, era muito calmo, e foi uma pessoa que marcou a minha geração, com sua barraquinha de cachorro-quente em frente à igreja matriz. Era quase obrigatório antes de irmos para casa, passarmos na sua barraca para comermos um cachorro-quente.
Seu Antônio Ramos era este cidadão, que eu estou falando. Ele morava no Corredor, a sua casa tinha um grande quintal onde ele cultivava junto com a sua esposa “flores”.
A barraca de seu Antônio tinha o tamanho de 2 metro por 80 centímetro e ficava localizada no vão direito da igreja matriz, embaixo do lindíssimo pé de Flamboyant. Todas 6 horas da noite ele chegava empurrando seu carrinho de mão, onde continha: o cachorro-quente, uma garrafa de café, um tamborete, uma lona, um fio com um bocal, uma lâmpada, dois panos de prato, uma faca, uma colher, um garfo, um papel celofane (vermelho), uma base de madeira em forma de caixão (onde ele colocava encima a bandeja de alumínio com o cachorro-quente) e um saco de pão. A mesa da barraca ficava encostada na parede da escada da igreja, quando ele chegava com a carroça, com a ajuda de uma pessoa, ele posicionava a mesa em frente da praça, colocava os paus laterais e o madeiramento circular, depois de armada, ele colocava a lona e o fio com o bocal. Este fio descia do teto da barraca e ia até bem próximo da bandeja do cachorro-quente, ali ele colocava a lâmpada e depois ele colocava o papel celofane ao redor do caixão onde estava o cachorro-quente. A única iluminação do local era exatamente este bico de luz, quem olhava de longe via apenas uma barra com uma iluminação vermelha.
O cachorro-quente de seu Antônio foi o único no mundo em que a matéria-prima principal era o ARROZ. Ele cozinhava o arroz, que depois de cozinhado era amassado até se tornar uma pasta, depois ele colocava alguns condimentos nesta pasta e espalhava esta pasta numa assadeira de alumínio de mais ou menos 30x40cm, sobre esta pasta ele colocava a carne moída e as verduras verdes bem cortadinha. Quando ele colocava a assadeira encima do caixão que iria servir de suporte, ele com um garfo fazia uma furo no meio desta pasta e ali colocava óleo comestível, acendia o fogareiro em embaixo deste buraco e aguardava começar a ferver para só assim dar início a venda do cachorro quente.
Seu Antônio só ia embora quando terminava todo cachorro-quente, isto se dava por volta das 2 horas da manhã. Os notívagos, estudante que chegava de Garanhuns, guardas-noturnos, o pessoal que saia do cinema, os bêbados, os vagabundos, os estudantes que estavam de férias, e tantos outros, só iam para casa quando comiam o cachorro-quente de arroz de seu Antônio. Esta rotina se deu por mais de 20 anos, até que seu Antônio adoeceu, devido o frio em que levava, e a idade também. Seu Antônio passou a sofre dos nervos, e por varias vezes quando ia receber seu dinheiro no banco, tinha ataque de nervos e caia no chão. Seu Antônio morreu a uns dois anos atrás com quase 100 anos.     

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